A violência contra a mulher dentro das empresas, já começa diante de uma entrevista de emprego. Qual mulher nunca escutou a pergunta: "Você tem filhos?", "Com quem seus filhos ficarão quando eles adoecerem?". Filho não deveria ser fator eliminatório e nem desculpa para as empresas contratarem mulheres, desvalidando sua competência e profissionalismo.
Além da diferença salarial entre o homem e a mulher, é comum, mas não deveria ser, o assédio moral contra as mulheres trabalhadoras. E sua classe social dita como o assédio será praticado: aguentam humilhações, são desrespeitadas profissionalmente, seus argumentos são cortados em salas de reuniões, aguentam piadinhas, risadinhas, e falas de sua aparência...
E, em caso de algum "problema", causado pela mulher que denuncia ao RH - porque é assim que as empresas enxergam - a mulher é demitida ou tem que se contentar (por educação), com um pedido de desculpas do seu agressor.
Deste modo, o assediador sai impune e em alguns casos passa a perseguir a vítima, seja dentro da empresa ou nas ruas. Já a mulher, que teve a sua imagem exposta direta ou indiretamente, foi culpabilizada pela violência sofrida.
Assédio é crime e as empresas não estão acima da lei. Por isso, é recomendável que a mulher busque apoio jurídico e procure a Delegacia da Mulher mais próxima e denuncie! Desta maneira, os casos de assédio diminuirão, não por vontade do abusador, mas pelo medo e inconveniência que ele terá de ter na sua ficha criminal, um caso de assédio.
Machistas CLT e CEO de MEI
Dizem com base em nada, que se igualar o salário da mulher ao salário do homem, o desemprego irá crescer. Será? Geralmente, uma só mulher consegue fazer mais de uma tarefa ao mesmo tempo e ainda gerir tudo à sua volta. Já um homem, costuma terminar uma tarefa primeiro, para depois iniciar outra:
"Trabalhei por onze anos em uma empresa tóxica, que me descartou após eu ter uma crise de depressão na qual o meu psiquiatra me afastou por quatorze dias. Menosprezaram tanto o meu trabalho, que abriram uma vaga para um júnior entrar no meu lugar. O resultado? Já faz 10 meses que saí de lá e até hoje, não conseguiram contratar alguém disposto a assumir minhas antigas tarefas. Mudaram a vaga para contratar um 'Analista Contábil Financeiro' que vai contar com a ajuda de um júnior. Não me espantei nem um pouco."
Esse depoimento é apenas para ressaltar um fato ocorrido e que é comum ver na maioria das empresas. E esse fato tem nome: machismo. Muito comum dentro das corporações, onde a mulher é vista como um ser com menos intelecto, inferior e que deixa de produzir quando um filho fica doente. Porém, na maioria das vezes, a mulher se desdobra e consegue trabalhar, cuidar da família e até mesmo, trabalhar com dores físicas que nenhum homem aguentaria.
Segundo dados do IBGE, a média de diferença salarial entre homens e mulheres é de 20,32%. Ou seja, em comparação com o salário de um homem, a mulher recebe o salário por apenas 291 dias trabalhados, o que equivale há 2 meses e meio trabalhando gratuitamente.
Mesmo assim, infelizmente não são só os homens os responsáveis por essa "cultura" machista. Existem algumas mulheres adeptas à submissão e violação dos seus próprios direitos. Desta maneira, tentam sabotar a luta de mulheres livres. Estas que são oprimidas e odiadas pelo simples fato de existir e exigir que seus direitos sejam respeitados.
Mulheres machistas: as electras
As mulheres machistas são as oprimidas querendo ser as opressoras. Em busca de aprovação, caminham e validam falas e atos de homens que não valem o chão que pisam. Homens que se sentem agredidos quando o assunto é equidade, porque desta maneira perdem o poder de subjugar e se sentir superiores.
Mas qual será a necessidade que algumas mulheres têm, de se sentirem inferiores? Em pleno século XXI, ainda há mulheres que pararam no tempo e acham correto ser subjugadas e violadas de alguma maneira. Será que se sentem menos mulheres se não houver um "machão" provedor dentro de casa? Ou mesmo ter um "machão" humilhando-as no trabalho?
O caso mais recente sobre mulheres machistas, que veio a público, foi a votação para a aprovação da PL n.º 1.085/2023. Na qual dispõe sobre a igualdade salarial e remuneratória entre mulheres e homens e altera a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Mas a igualdade salarial, tampouco é um benefício mas sim um direito, que infelizmente, teve que se tornar lei para ser cumprido com punição de multa para a empresa que a desrespeitar.
Veja mais sobre a PL no site do Governo.
A votação, resumidamente, contaram com 325 votos a favor e 36 contrários. E dentre esses 36, infelizmente, 11 foram de mulheres:
Any Ortiz (Cidadania-RS)
Adriana Ventura (Novo-SP)
Bia Kicis (PL-DF)
Carla Zambelli (PL-SP)
Caroline de Toni (PL-SP)
Chris Tonietto (PL-RJ)
Julia Zanatta (PL-SC)
Magda Mofatto (PL-GO)
Silvia Waiãpi (PL-AP)
Dani Cunha (União-RJ)
Rosângela Moro (União-SP)
Isso é uma afronta à todas as mulheres que sofreram algum tipo de abuso ou foram assassinadas devido ao machismo e misoginia. Pois é a sociedade que fornece tal munição para que casos de assédio, escalem até o feminicídio. O que dá aporte à essa superioridade que alguns homens acham que tem, apenas por terem nascido homens.
E quem diz que essa PL não prejudica as mulheres, é porque nunca acompanhou um caso de violência contra a mulher de perto. Sendo que um dos principais fatores para que as vítimas de abuso não consigam sair do ciclo de violência, é a dependência financeira.
É uma afronta também, à todas as mulheres que se dedicaram ao trabalho, mas não tiveram nenhum tipo de reconhecimento, pois sempre tem um homem na frente para ser promovido ou ter seu salário melhorado.
Isso sem contar com as mães solo, que fazem malabarismos para o sustento de sua família e ainda são desvalorizadas e desrespeitadas no trabalho, sem perspectiva de qualquer melhora financeira ou futuro promissor.
Enquanto homens ganharam o direito de sonhar, de planejar o futuro, de se dedicar exclusivamente ao trabalho e de ser reconhecido conforme seu desempenho, mulheres são punidas porque ganharam o direito de trabalhar. É como se as empresas mandassem o recado "o mercado de trabalho abriu as portas, mas terão que se contentar com o salário X (20,32% a menos).
Essas empresas, também acharam uma brecha na não obrigatoriedade de divulgar o salário nas ofertas de emprego. Deste modo, oferecem o salário X para mulheres e Y para homens. Outra brecha encontrada, é de não divulgar o número de processos trabalhistas junto com a vaga. Também deveria ser obrigatório, para que o processo de emprego seja transparente e proteja à toda a classe trabalhadora.
O machismo estrutural
A maioria dos homens sente que pertence a uma "casta" superior, assim como um nazista sente que pertence a uma raça superior. Nós mulheres nascemos sendo odiadas, crescemos com a doutrinação dos mais velhos e amadurecemos com uma revolta por dentro, que muitas não deixam escapar, pois "não é coisa de menina".
E é graças à essa "cultura" machista, a mulher é vista como reprodutora e cuidadora da casa e da família. E para isso são "educadas" desde meninas, com tarefas domésticas que dificilmente se estendem aos meninos e homens, por escolha da própria família. Então quando essa menina cresce, entende que é obrigação dela, dar conta de duplas e triplas jornadas sozinhas.
Além do canibalismo mental da família contra a menina, algumas ainda são doutrinadas pelas igrejas com líderes religiosos que, se baseiam em um livro totalmente machista, racista e intolerante. Cerceiam a liberdade das meninas e mulheres e impedem que elas amadureçam como seres livres.
Em tempos remotos, a mulher que ousasse se libertar, era diagnosticada com histeria, internada em manicômios e "tratada" com lobotomia. E quando grávidas, eram trancafiadas em conventos e seu filho arrancado de seus braços para ser colocado à adoção. Outras foram torturadas e queimadas vivas, porque foram condenadas como bruxas.
Ainda hoje, a luta pela emancipação está longe do fim. O machismo é estrutural e além de políticas públicas para que os direitos das mulheres sejam respeitados e cumpridos, a mudança deve começar dentro de casa e nas escolas, para que haja pressão dentro das empresas. Somente assim esse tipo de violência, seja dentro de organizações, dentro de casa ou nas ruas, serão amenizadas.
“É pelo trabalho que a mulher vem diminuindo a distância que a separava do homem, somente o trabalho poderá garantir-lhe uma independência concreta.” Simone Beauvoir, 1967.
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