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Abril Indígena

Foto do escritor: Jaqueline VianaJaqueline Viana

Atualizado: 26 de jan.


indígenas xingu
Foto: Sitah

Abril é o mês de falarmos dos povos que são os verdadeiros donos dessas terras. Dos povos que foram agredidos, escravizados, oprimidos e assassinados desde que os forasteiros colocaram os pés aqui. Toda a nossa solidariedade aos povos originários, em especial aos povos Yanomamis, Tupinambá e Xingu, que sofrem com o garimpo e com as empresas gringas quem vem para o Brasil como vampiros, sugando e matando tudo ao seu redor.



Não é a toa que empresas como a Usina de Belo Monte vem destruindo o rio Xingu e seu arredor, deixando moradores indígenas e ribeirinhas sem água, sem peixe e sem caça. Ainda ofereceram uma merreca indenizatória aos moradores dessas comunidades, como se isso fosse reconstruir a natureza que Belo Monte esmagou e cuspiu em cima.



Mas não é só de tristeza que viemos falar. Pois no Abril Indígena é dia de lembrar da resistência indigenista e seus principais líderes:



David Kopenawa Yanomami

Conhecido internacionalmente pela sua luta em defesa do seu povo. Ele também é xamã, escritor e presidente da Hutukara Associação Yanomami.


Joênia Wapichana

A primeira indígena do Brasil a ser eleita para uma vaga na Câmara e a primeira a se pronunciar no plenário do Supremo Tribunal Federal (STF), durante homologação dos limites da Reserva Raposa Serra do Sol (2008).


Raoni Metuktire

Também conhecido internacionalmente, travou uma luta de anos (1970 – 2010) contra a Usina de Belo Monte, mas Dilma Rousseff deu início ao projeto em 2011. No governo de Bolsonaro, Raoni reuniu mais de 600 lideranças indígenas e denunciou o massacre que seus povos estavam sofrendo nas mãos do colonialista Jair Bolsonaro. Entre as denúncias, constam o assassinato de 7 lideranças indígenas e o maior desmatamento dos últimos 11 anos.


Sônia Guajajara

Tem quase 20 anos de luta pela proteção dos direitos indígenas. Ocupou cargos de destaque em organizações e movimentos pró-indigenistas. Participou da marcha indígena, para discutir o Estatuto dos Povos Indígenas, mas ficou conhecida por entregar o prêmio Motosserra de Ouro para Kátia Abreu, que era a maior responsável pelo desmatamento na época. Guajajara também coordenou a organização do Acampamento Terra Livre, a Semana dos Povos Indígenas e a ocupação do plenário da Câmara e do Palácio do Planalto.



Com certeza, há muito mais lideranças do que podemos imaginar e fizeram muito mais do que temos conhecimento. A única certeza é de que há muita força, lealdade e consciência emanando dessas comunidades. Pois eles são um povo que consegue preservar 82% da biodiversidade do mundo, sendo que somam apenas 5% da população mundial.



A estratégia branca


Enquanto isso, as missões evangélicas invadem as TI’s, e isso não é bom sinal. Aos poucos, essas missões matam a cultura indígena em nome de um deus morto, além de tentar matar as línguas nativas dos povos originários. Isso é uma estratégia para que esses povos, que passam toda a sua cultura aos seus descendentes por meio da oralidade, deixem de existir. E desta maneira, a burguesia consegue uma brecha para invadir e explorar as terras que hoje são demarcadas pela FUNAI.



Devido à resistência indigenista, a burguesia colocou em prática um plano de genocídio:



  • O garimpo ilegal.

  • A violência contra os povos originários.

  • O assassinato de lideranças indígenas.

  • A transmissão da COVID-19 e outras doenças levadas pelos garimpeiros às comunidades.

  • A contaminação das comunidades e da biodiversidade pelo mercúrio.

  • A expulsão dos médicos que trabalhavam nos postos de saúde das comunidades.

  • A disputa territorial.

  • A fome e a sede.

  • O suicídio.

  • O enfraquecimento das políticas públicas indigenistas.

  • O sucateamento de órgãos governamentais que deveriam proteger os indígenas.



Provavelmente a burguesia se inspirou em algum episódio de South Park, devido às falas absurdas que temos que escutar em pleno séc. XXI: “Temos que explorar essas terras!”. Como se aquelas regiões fossem improdutivas, sendo que toda nossa água potável vem delas, além dos novos estudos científicos e novos medicamentos que são descobertos dentro das florestas. A burguesia só pensa em vender ouro como água, para depois vender água a preço de ouro.



Tomar o território dos povos originários, é a mesma coisa que extingui-los. Pois as terras são organismos vivos que fazem parte dos corpos indígenas, que equilibram a floresta e a mantém saudável.


Imagine o mundo sem uma sombra de árvore… provavelmente moraríamos dentro do livro “Não verás país nenhum” do escritor Ignácio de Loyola Brandão, onde as pessoas tinham que acordar de noite para trabalhar devido à alta temperatura da Terra. Os salários eram fichas que eram trocadas por comida e água. Uma vida miserável, onde muitos se rendiam a ser cobaias em testes de vacinas e experimentos científicos, pois era a única “profissão” onde a comida e a água eram fartas.


Lembrei desse livro, pois ele vivia “desencaixando” da estante e caindo na minha frente, com a capa virada para mim. Eu era criança ainda, mas o li ainda na adolescência. Depois de muitos anos, doei esse livro à caridade, mas hoje entendo que “Não verás país nenhum” irá me assombrar para sempre, devido ao rumo que a humanidade está tomando.



As Mulheres Biomas


Mulheres indígenas Xingu
Mulheres indígenas Xingu
"(...) porque somos terra, sementes, raiz, tronco, galhos, folhas e frutos, mulheres conectadas com o corpo da Terra. Somos diversas, somos avós, mães, irmãs, filhas e netas. Nós pelas que vieram antes de nós, nós por nós e nós pelas que virão." – Mulheres da ANMIGA (Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade).

Quando as mulheres indígenas defendem seu território, estão também defendendo seus corpos. Pois para a mulher indígena, o seu corpo faz parte da terra, assim como a terra faz parte do seu corpo, trazendo consigo toda a sua espiritualidade, cultura e ancestralidade. Seu corpo-território está interligado à todas as outras mulheres indígenas e é desta maneira que quando uma delas fala, a voz de todas ancestrais ou não, ecoam por ela.


Sofrendo violência, intolerância religiosa e racismo há 523 anos, hoje essas mulheres lutam contra a insegurança alimentar e para ter uma refeição livre de venenos. Elas precisam se manifestar por algo que deveria ser um direito garantido, mas a elite rasga a Constituição em prol da ambição, do benefício próprio e enriquecem cada vez mais às custas do sangue indígena, desde sempre. Leia mais no site COMIN e ANMIGA.



Sofrimento: machismo e racismo


O machismo sempre violentou as mulheres de todas as formas. O corpo, mente, espírito, moral e liberdade sempre foram cerceados por homens e algumas mulheres machistas. Tratam as mulheres como se fossem de uma “casta” superior e conseguem agredir e invadir as mulheres com olhares de reprovação. E para as mulheres indígenas é ainda pior, pois além da violência de gênero, também sofrem com o racismo a ponto dos brancos não suportarem a sua presença em ambientes públicos.


Parece que estou falando de um país de gente branca, mas na verdade estou falando do Brasil, o país mais miscigenado do mundo. Onde indígenas conseguem ingressar na faculdade pela lei de cotas, mas não conseguem terminar o curso devido aos ataques racistas que sofrem.


Toda a minha solidariedade aos povos originários e em especial às mulheres. Porque as dores das indígenas são as minhas também. E desejo, que ninguém mais as subjugue, que sejam livres e se sintam leves como o vento que sopra entre as árvores.


"Toda opressão cria um estado de guerra.” – Simone Beauvoir.

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