Mesmo com o número de feminicídios batendo recordes no Brasil, ainda há mulher que acolhe homens machistas, misóginos e estupradores. E há também aquela que levanta a bandeira do feminismo, mas se cala quando presencia outra mulher sofrer com o machismo, como relatei em "Carta aberta aos machistas". Graças à competitividade feminina, as mulheres se dividem em caminhos divergentes.
A mulher como propriedade
Desde os tempos antigos, as mulheres foram consideradas a primeira propriedade do homem (Engels) e, por isso, teve a sua liberdade e vontades cerceadas. Viveu a violência, a escravidão, o preconceito e ao contrário dos contos de fadas, o final não foi feliz. Muitas vezes, o final foi antecipado com suas mortes, o que ocorre até nos dias atuais. As mulheres sofrem e morrem nas mãos dos seus “príncipes” machões.
"Ninguém é mais arrogante em relação às mulheres, mais agressivo ou desdenhoso, do que o homem que duvida de sua virilidade." — Simone de Beauvoir, 1949.
As mulheres deveriam se unir mais e deixar algumas aspirações individuais de lado, porque essa é uma luta coletiva que não tolera desigualdades. É uma luta para que mulheres tenham os mesmo direitos que um homem branco e hétero tem, como ser humano e como profissional. A mulher tem o direito de usufruir da sua própria vida e amadurecer individualmente, sem que alguém lhe roube a liberdade e a oportunidade de crescer financeiramente e como um ser humano livre.
As amarras mentais que a sociedade impõe a milhares de mulheres, lhes tomam a sua vida e a sua identidade. A ponto de algumas mulheres apoiarem o machismo, buscando aceitação e aprovação da sociedade machista.
E se esquecem, do número de meninas e mulheres que se tornaram estatísticas. Das inúmeras mulheres que foram vendidas em troca de paz nas guerras e das meninas e mulheres que são prometidas em casamento, em troca de uma boa e gorda quantia de dinheiro.
As vítimas de opressão e violência, seja física, psicológica, moral e social, se tornaram invisíveis.
O "princeso" encantado
Quem gosta de ser princesa, não se dá conta que não existe um príncipe encantado. Ele é só um "princeso" que estava cavalgando à toa por aí, se exibindo com seu cavalo e se dizendo valente. Mas, na verdade, gosta de comer pão com garfo e faca e de dar socos na sua cara. Essa é a verdadeira maçã envenenada.
Há inúmeras maldades por detrás de uma voz macia, uma escuridão chamada subjugação e submissão. As mesmas ferramentas usadas no imperialismo, onde o homem é o rei e a mulher é a serva dos seus prazeres. A sociedade veste o machismo como se fosse uma armadura, que a livraria de qualquer dissabor.
O "princeso" é um ser de masculinidade frágil, que te impede violentamente de se tornar uma mulher madura, poderosa e capaz de realizar seus próprios desejos. Nos contos de fadas, a história se encerra com o casamento e um "felizes para sempre", como se o casamento livrasse a mulher de qualquer mal.
"Um dos benefícios que a opressão assegura aos opressores é de o mais humilde destes se sentir superior." — Simone Beauvoir.
As princesas não se tornam mães ou nem ao menos amadurecem. Essa parte não é mostrada nos contos, para imputar na mente da mulher que ela deve ser a princesinha submissa, na qual espera ansiosamente o seu príncipe lhe beijar. Uma marreca.
É preciso que os "princesos" e princesas acordem e saiam dos contos de fadas. O machismo deve ser combatido com conscientização desde cedo, nas escolas e nos lares, para que meninos e meninas vivam no mundo real, mas sem violência. E saibam que as dores e consequências do machismo, também são reais.
A bruxa
Não à toa, também não é mostrado que a bruxa é a mulher de sabedoria oculta, que segue seus instintos e não precisa de homem para existir, nem para lhe salvar. Ela não se dobra às ameaças e desafios, pois emana poder de sobra dentro de si. O poder da independência, conhecimento, liberdade e maturidade. Que põe o conto de fadas ladeira abaixo.
É por isso que a bruxa se torna um perigo aos olhos dos "princesos" e princesinhas, pois ela acorda ambos para o mundo real. Não há castelo que fique de pé diante da realidade. A bruxa de hoje, lhe mostraria gráficos e números sobre a violência contra a mulher.
Os contos também gostam de incentivar a rivalidade feminina. Todas são inimigas em potencial, capazes de afastar a sua salvação e realeza, o princeso encantado e o seu "felizes para sempre".
Quem tem apenas aspirações individuais, jamais entenderá uma luta coletiva. - Autor desconhecido
Obs.: diversos textos dessa série foram roubados.
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