"BELO MONTE precisa deixar passar mais água pela Volta Grande do Xingu! Essas soleiras que aumentariam o tempo de retenção da água, segundo especialistas, são uma solução porca, criando alagamentos de água parada que ameaçam o que sobrou de integridade ecológica naquela região." - Rodolfo Salm, Twitter - 07 de janeiro de 2023.
A usina Belo Monte e a mineradora Belo Sun, ameaçam a segurança alimentar de comunidades do Pará. Cidades vêm sofrendo com a falta de recursos hídricos, escassez de peixes e inundações. Além de sofrerem com queimadas e mineração ilegal, também sofrem com agrotóxicos que envenenam árvores e animais na região, causando suas mortes.
Provavelmente é muito difícil para o homem branco entender que o ecossistema é um corpo. E como todo corpo, quando algum órgão fica doente ou morre, os outros órgãos vão sofrer, falhar e matar todo o corpo. Na cabeça dos ambiciosos e egoístas, eles só estão explorando uma parte da floresta e se o restante morrer a responsabilidade não é deles. Isso é típico de um sistema opressor, pois impõem a sua própria vontade sem se importar com as consequências, se exumindo de qualquer culpa.
"Quem tem apenas aspirações individuais, jamais entenderá uma luta coletiva." — Autor desconhecido.
Empresas gringas adoram o Brasil, adoram tanto para explorar as suas florestas, como para explorar a mão de obra barata. O governo costuma dar carta branca para elas, sem nem ao menos fiscalizar se os contratos estão sendo cumpridos ou se algo ilegal está ocorrendo.
Em contrapartida, faz tempo que vemos promessas de zerar desmatamentos, só que já estamos cansados de vermos planos de preservações datadas à médio e longo prazo, pois é assim que um Governo passa a responsabilidade para o outro, sem se preocupar com o que acontece na sua gestão. Não é mais aceitável o papo furado de projetos para 2030, as ações urgem para o agora.
As regiões que beiram o rio Xingu, tem as suas terras exploradas pela Usina de Belo Monte e pela mineradora Belo Sun, mas será que essas cidades resistirão à médio ou longo prazo? Conforme estudiosos e relatos das pessoas da região, provavelmente não. Essa região é conhecida como "médio Xingu", sendo integrada por dezenas de comunidades ribeirinhas e indígenas que dependem dos recursos naturais da floresta, para a sua sobrevivência, medicina e cultura.
Belo Monte e Belo Sun
A usina de Belo Monte é uma hidrelétrica localizada na Amazônia. E conta com acionários como a Eletrobras, Petros, Funcef, Neoenergia, Vale, Sinobras, Light, Cemig e J.Malucelli Energia. Belo Monte fez instalações ao longo do curso do rio Xingu e além de emitir gás metano e dióxido de carbono envenenando o ar, também causa uma verdadeira guerra pela água, entre a usina e a população ribeirinha e indígena. Isso acontece porque essa usina é de grande porte e apesar de se utilizar da tecnologia "fio d'água" — que necessita de reservatórios menores — a usina precisa de uma grande área de exploração para comportar seu tamanho e a demanda de energia.
Com sede no Canadá, a mineradora Belo Sun é um empreendimento do banco Forbes & Manhattan, voltada para a exploração das terras da América Central e da América do Sul. Essa mineradora diz ter foco em "gerar valor sustentável" e descreve a destruição das terras de Volta Grande do Xingu (PA) que ela planeja causar, como "Projeto Volta Grande Gold".
A Belo Sun planeja explorar as terras para a retirada de pelo menos 60 toneladas de ouro, o que equivale a 5 toneladas a cada ano, durante doze anos. Sem se importar com as 25 famílias indígenas que ocupam o lugar por direito. E sem se importar com a destruição da floresta que esse empreendimento irá causar.
A Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (SEMAS), emitiu a Belo Sun uma licença ambiental prévia (2014) e de instalação (2017). O MPF pediu suspensão das autorizações e transferência do licenciamento para a esfera federal, ou seja, para o IBAMA.
A Justiça Federal suspendeu a licença, o que foi confirmado pelo TRF (Tribunal Regional Federal) da 1ª Região em abril deste ano. A suspensão prossegue por tempo indefinido e o IBAMA alega que o responsável pelo licenciamento é de competência do Estado.
As consequências de Belo Monte na fauna e flora do Xingu
Segundo o estudo do André Oliveira Sawakuchi, professor do Instituto de Geociências (IGC) da USP, ao total, essa usina atinge 500 km² de terras e espalha destruição, com inundações de suas margens e com a velocidade da água reduzida em um trecho de 80 km do rio Xingu.
O estudo completo está disponível no site Science Advances.
"(...) e ainda há pontos de queimada ao longo da Transamazônica. A fumaça é visível em Altamira. Nessa época era para estar tão chuvoso, tão molhado que acender qualquer fogueira seria o maior desafio. Mas não. Não está longe o dia que essa terra vai queimar o ano todo." — @rodosalm, Twitter — 26 de dez de 2022.
As consequências de Belo Monte na população
Belo Monte removeu famílias indígenas e ribeirinhas à força, além de matar trechos do rio e deixar diversas famílias em situação de insegurança alimentar. Isso é causado porque os peixes não conseguem mais se reproduzir, devido ao baixo fluxo de água da região tomada pela Usina.
Aos poucos, a usina mata também toda cultura e organização social das comunidades, que se veem obrigadas a trabalhar em fazendas, adoecer devido aos agrotóxicos e ainda mudar a sua alimentação para algo bem menos saudável, como o consumo de mortadela e macarrão instantâneo.
“Essas grandes pessoas pensam só neles, não pensam na população, nos povos, então eles acham que o rio é só lucro. Mas o rio é uma vida, é mais do que se pensa no lucro” —Korotowi Ikpeng.
A consequência foi o desequilíbrio ecológico na região: "As ariranhas estão sem peixes e competem com lontras por comida. A proporção sexual de tracajás foi alterada, com predominância de fêmeas. Tartarugas estão menores. De 2012 a 2021, 41 toneladas de peixes foram retiradas do rio sem vida." (Folha, 08 de outubro de 2022).
A Norte Energia afirma que tudo corre como planejado, que isso tudo foi estudado. Mas quem foi a equipe responsável por esses estudos? Se estiverem vivos ainda, seria perfeito se eles voltassem para a faculdade e estudasse novamente. Esse estudo e planejamento é bem medíocre para a situação atual.
Essa usina é um empreendimento muito ambicioso, mas é muito ralé ao mesmo tempo. É como um vizinho rico que te rouba água, gás, luz, internet e ainda assalta a sua geladeira. E tudo isso para sustentar o casarão dele. Belo Monte, o que te falta é multa, é mexer no seu cofrinho e a justiça te condenar a reparar todos os danos causados na região, inclusive à população. O povo quer as suas terras de volta.
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Os povos da região: ribeirinhas e indígenas.
A vivência em comunidades é bem diferente da vivência das grandes cidades. As comunidades possuem seu próprio sistema social. De acordo com a pesquisadora Maria do Perpétuo Socorro Rodrigues Chaves (2009), cada um desses segmentos é constituído por uma identidade sociocultural e política própria, cuja modalidade de sobrevivência e relações político-organizativas estão relacionadas:
A origem étnica por meio da adoção e adaptação de saberes e técnicas de acordo com suas necessidades.
Ao padrão complexo de organização da produção e de gestão dos recursos naturais.
A luta pela garantia de sobrevivência e acesso a bens e serviços sociais.
As atividades exercidas. Como agricultura, caça, pesca, coleta e extração, desempenhadas de acordo com suas necessidades e recursos naturais disponíveis.
Costumes, alimentação, cultura e saúde
Povo Ribeirinha
Residem nas proximidades dos rios, vivem da caça, de roçados e pesca. Além de ter a medicina das ervas como único meio de cuidado com a saúde, também tem as jangadas e barcos como único meio de transporte.
Povo Indígena:
Também vivem de roçados, caça e pesca. As mulheres costumam fazer artesanatos com materiais colhidos na floresta. Os indígenas são os verdadeiros donos dessas terras, guardiões das florestas e vêem a natureza como uma extensão de seus corpos. As florestas do Brasil só conseguiram sobreviver até hoje, graças à esse povo que dão a vida para protegê-las.
Governo Lula
Com tantos bilhões sendo investidos no Brasil, é difícil acreditar que o Governo não consegue achar soluções mais sustentáveis para nossas terras. Onde vão parar esses bilhões?
Belo Monte teve os primeiros estudos de viabilidade elaborados na ditadura militar, na década de 1970. O governo Lula (PT) viabilizou as primeiras licenças e as obras se deram no governo Dilma Rousseff (PT). No primeiro ano do mandato, o governo Jair Bolsonaro (PL) concluiu as unidades geradoras e inaugurou o conjunto completo.
Durante a campanha nestas eleições, Lula disse que faria Belo Monte de novo e que só um terço do projeto original foi posto em prática na gestão petista.
Medidas protetivas
Apesar dos direitos dos indígenas estar garantidos na Constituição, ainda falta maior fiscalização e punição rígidas para quem invade as terras demarcadas. Como no governo Collor, onde bancos internacionais pressionaram medidas protetivas aos indígenas e logo o IBAMA expulsou os garimpeiros e o governo expandiu as demarcações de terras. Ou seja, é possível resolver, basta querer.
No final das contas, todos nós pagamos o preço pela devastação, aquecimento global e entre tantas outras consequências, a escassez de recursos. Que com o tempo, ficarão cada vez mais caros. E quem terá o poder de compra? Seria um projeto de genocídio do Brasil ou um projeto escravagista da classe trabalhadora?
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